Thursday, November 25, 2010

A LIBERDADE NA ILHA DA FANTASIA


"É certo que o conteúdo do livro entitulado "Cuba Libre" atenta contra os interesses gerais da nação, toda vez que defende que em Cuba são necessárias certas mudanças políticas e econômicas para que seus cidadãos possam dispor de maior bem estar material e alcançar a realização pessoal, extremos totalmente contrários aos princípios de nossa sociedade"
Transcrição do texto policial cubano que confiscou os livros de Yaoni Sanchez.


 Yoani Sánchez 

 Lean los motivos que me han dado para la confiscacion de 10 ejemplares de mi libro Cuba Libre 

Sunday, November 7, 2010

AS COSTELETAS DO PSICANALISTA

Queria escrever um post (não é conto, não é crônica, não é prosa, não é poema) sobre "As costeletas búlgaras" mas estou cansado. A idéia é explicar que não sou eu o Peter Pan, embora o meu psicanalista insista com esta idéia. Às vezes tenho a impressão de que ele é o Escaravelho Vermelho, mas por respeito profissional nunca lhe disse isto. Mas ele me ofende quando diz que sou eu o Peter Pan de Garanhus.
Os psicanalistas têm dessas coisas, se assemelham muito com o burguês gentilhome que ficava tentando entender a diferença entre a prosa e a poesia. Isto não é prosa nem poesia, é um post, que alguns do mundo de Peter Pan insistem em chamar de postagem, um post bobagem. Mas não, é um post somente, entendem, um post.
A idéia é escrever sobre as costeletas búlgaras, esta coisa quase indecifrável já que búlgaro e costeletas, em uma mesma frase, não combinam, como dizia a Letícia sobre Veneza e pobreza. Quando eu era pobre, morava na Locanda Caretoni, alí em Veneza, perto da estação. Mas a Letícia nunca conseguiu aceitar isto, para ela pobres moravam no Brasil e não em Veneza. Hoje espero que ela já tenha compreendido que há pobres também na Bulgária.
Os pobres não fugiram do comunismo da Bulgária, só os ricos. 
Os ricos deixaram para trás os ciganos que, junto com os búlgaros e os tártaros, em proporções diferentes é claro, compõe a população da Bulgária. Queria que o meu psicanalista compreendesse isto, mas ele não entende. É como a Letícia, acha que pobres e Veneza não combinam na mesma frase. E pobres e búlgaros, combinam?
Os ciganos, no meu entender, são búlgaros. Na verdade, eu nunca entendi de onde são os ciganos, eles são alguma coisa assim como os piratas do navio do Capitão Gancho, É por isso que os ciganos se vestem como os piratas, usam brincos, lenços na cabeça, e são maus. Sempre me disseram isto, que os ciganos são maus, mas os comunistas não aceitam isto, para os comunistas todos os homens são bons, exceto, claro, os burgueses, sejam eles ciganos ou não.
Há muitos ciganos na Espanha, também não me perguntem porque, porque eu não sei. Mas os ciganos são iguais em todos os lugares, na Espanha, na Hungria, na Bulgária, no Brasil, em todos os lugares onde há ciganos. Os espanhóis, por sua vez, eram conhecidos pelas touradas e pelas costeletas, não as de porquinho, como aquelas que eu como na Roberta Sudbrack, não, mas as costeletas que estão sempre adiante das orelhas. 
Talvez isto tenha alguma relação com côte, Côte D´Azur, por exemplo. Costas, embora seja muito raro que as pessoas, sejam elas espanholas ou ciganas, tenham cabelo nas costas. Os búlgaros, por exemplo, pelo o que eu sei, eles não têm cabelos nas costas como os bárbaros, por exemplo, os bárbaros eram peludos, diferente dos romanos e bizantinos que eram civilizados. Civilizados, cristãos, tornaram-se depois, é certo, mas não eram bárbaros, eram civilizados e cristãos, e não tinham cabelo nas costas, não tinham costeletas.
Os búlgaros, então, são como os brasileiros, ainda que catapultados, de uma certa forma. Só os ricos, os pobres, não, porque pobre e Brasil não combinam numa mesma frase.
Resumindo, o meu psicanalista é búlgaro.

A MODA NA BULGÁRIA E O SIGNIFICADO DO SILÊNCIO.

Prezado Manuel,
Infelizmente não entendi nada desses seus dois últimos posts. Afinal o que tem a ver a moda na Bulgária, o significado do silêncio e a catapulta que pariu. Aliás achei um pouco chulo esta coisa da catapulta, não vou repetir.
Carissimo leitor,
Eu não posto posts para serem entendidos, mas para serem lidos. Se você os leu eu já me dou por satisfeito.
- Está bem, vou tirar o Prezado Manuel para não ficar interrompendo a nossa comunicação e vou usar hífens. Se você fizer o mesmo acho que tudo vai ficar melhor.
Caríssimo Leitor,
Eu prefiro não tirar o hífen, acho que isto torna mais clara a leitura, embora não modifique em nada a substância desta leitura.
- Como é isso, não modifica em nada, então qual é a função do hífen?
Caríssimo Leitor,
Poderíamos ficar nesta conversa durante horas, ou páginas se quiser, mas não entendo que o objetivo desta conversa seja ficarmos horas conversando, não é mesmo?
- Ah, bom, quer dizer que os posts são para serem lidos, mas as conversas não são para serem conversadas.
Caríssimo Leitor.
(Silêncio)
-Ah, viu para que serve o hífen? Com ele você não precisaria escrever caríssimo leitor, o que já significa o rompimento do silêncio.
Caríssimo Leitor,
Você já viu peças de teatro alguma vez na sua vida, já leu alguma peça de teatro?
- Já, lá ninguém diz "Caríssimo Leitor" e muito menos "(Silêncio)"
Caríssimo Leitor,
É claro, os autores das peças de teatro escrevem "(Silêncio)" justamente para que o diretor da peça saiba que alí, naquele momento haverá silêncio, e para que a platéia perceba não apenas o silêncio, mas o significado que o silêncio possa ter.
-É, mas eles não escrevem "Caríssimo Leitor".
Caríssimo Leitor,
(Silêncio)
- Bom, agora é você que não tem  argumentos ou que está puto com os meus argumentos e prefere ficar em silêncio para não perder o leitor.
Caríssimo Leitor,
Parece que agora você conseguiu entender o significado do silêncio e a relação com a catapulta que pariu. Está bem, retire o "que pariu", embora, afinal, isto não seja ofensa nenhuma. Refere-se à maternidade que, como sabemos, não pode ser ofensiva.
- É, mas o catapulta tem duplo significado!
Caríssimo Leitor,
Agora é você que me quer confundir. A sua questão inicial dizia respeito à relação entre os significados das expressões,ou melhor, de cada título,  e não ao significado das expressões. Eu estou falando das relações, quero dizer, eu estou falando que os títulos estão relacionados.
- Então porque você disse que eu entendi o significado do silêncio?
Caríssimo Leitor,
Porque você entendeu este significado, pronto. Mas o meu interesse, e a sua questão inicial, era sobre a relação entre o significado do silêncio, a moda na Bulgária e a catapulta que pariu (desculpe-me de novo, embora eu mantenha a minha opinião a respeito da maternidade).
- Agora quem não está entendendo mas nada sou eu. Será que isto tem a ver com a moda na Bulgária?
Caríssimo Leitor,
Agora que você já entendeu, na próxima postagem eu explico o significado de Batman e do Escaravelho Vermelho. É a isso que chamamos processo socrático.

O SIGNIFICADO DO SILÊNCIO

- Doutor, tenho um problema ininteligível, quero dizer, ininteligível para mim. Claro que para o senhor ele será inteligível.
- Eu suo intensamente sob a pálpebra, não dentro, mas embaixo da pálpebra, na parte externa, o senhor compreende, quando eu digo sob permanece a dúvida, e se eu disser sobre ficaria pior ainda.
            O doutor olhava silente, não que ele olhasse e estivesse sem falar, não, era o olhar dele que não falava, não tinha nenhuma expressão, nem pasmo nem curiosidade. É claro que, além disso, ele não falava, quero dizer, o doutor não falava, além dos olhos, claro. Era um doutor em silêncio com um olhar silente, é isso.
- Eu suo intensamente sob o saco conjuntival, ele, o outro que não o doutor, disse. Havia aprendido esta expressão, saco conjuntival, com um outro, um terceiro, também doutor, oculista, que lhe havia receitado uma pomada para colocar no saco conjuntival. Achou que assim ficaria melhor, ainda que para ele, o outro que não os doutores, ainda restasse uma dúvida. Será que ele entendeu que não é internamente, que é externamente, logo abaixo do saco conjuntival.
Eu acho que o doutor estava pasmo. Pasmo, mas também curioso. “Como é que podia chegar um cara aqui no consultório e me colocar este problema ininteligível, não sei sequer se é um problema, de que ele sua sob o saco conjuntival”. É como eu acho que o doutor estaria pensando. Eu acho, mas era impossível decifrá-lo, a ele, doutor.
“Suo também na nuca, mas só na base da nuca, alí onde começam os cabelos, indo desde o alto de uma das orelhas, baixando e elevando-se até o alto da outra orelha, mas só na linha de base, o senhor compreende? Do alto das orelhas para a frente até a base das costeletas, ali eu não suo”, ele disse, mas antes refletiu, por décimos de segundo porque seria que chamam a isso costeletas, já que costeletas têm a ver com costelas, pequenas costelas, melhor dizendo, assim como costeletas de porco, ou costeletas de cordeiro.
-Eu não suo das orelhas até a costeleta, repetiu.
            O doutor continuava olhando insignificantemente, no sentido de não significar, mirando mas não olhando, ou melhor, olhando mas não vendo, olhando indefinidamente embora não indefinitivamente, porque o infinito é muito longo. Eu, pessoalmente, acho que o doutor estava prestando atenção, ainda que pasmo, simplesmente porque, eu acho, estava curioso. Não há como deixar de estar curioso, mesmo eu, que não sou médico, como disse uma vez a uma amiga que insistia que eu era Ari e médico, mesmo eu estava curioso. Como é possível que uma pessoa sue das orelhas para trás e não sue das orelhas para frente, e sempre na base capitar (é assim que se diz?). Além do mais, suava também na base das pálpebras. Acho que assim ficou melhor, na base das pálpebras, acho que assim não dá para confundir. Portanto, havia três pequenos interregnos, dois entre o alto das orelhas e a base da pálpebra, um do lado direito e outro do lado esquerdo, e um terceiro interregno entre as bases das pálpebras e por sobre o nariz. Como era possível que não se suasse assim. Ou melhor, como era possível que se suasse assim, daquela outra forma.
O doutor não moveu uma pálpebra. Ficaram em silêncio por 15 segundos. É muito, é quase infinitamente longo.
Ele, o outro que não o doutor, levantou-se, sacou o revólver, deu três tiros no doutor. Não foi uma coisa rápida como se possa imaginar. Não, o revólver estava na cintura, atrás, e os gestos foram lentos, ainda que não infinitamente lentos. Ele levantou-se, levou a mão atrás da cintura, tirou o revólver do coldre e atirou. Depois, com o revolver ainda na mão, saiu da sala do médico e deparou-se com a atendente. Silente, quero dizer ela, a atendendente, mas não com o silêncio do pasmo ou da curiosidade, apenas silente com o silêncio do desespero já que ouvira os tiros e imagira o que acontecera ao vê-lo com o revólver fumegante.
Ele olhou para ela e pensou: poderia explicar tudo mas acho que ela não entenderia, ela continuaria silente. Mas, eu perdôo, pensou, e caminhou para a porta do consultório, abriu a porta e saiu para a liberdade.

NA MODA NA BULGÁRIA? A CATAPULTA EM QUE FOMOS METIDOS


A primeira vez que ouvi falar da Bulgária foi no meu exame de admissão ao ginásio. Naquela época, as crianças de 10 anos tinham a obrigação de saber as capitais de todos os países e deviam estar preparadas para estudar latim aos 11 anos e grego aos 16. A capital da Bulgária era Sófia, e continua sendo Sófia até hoje, embora nós a chamássemos de Sofia, assim como chamávamos, não sei porque, a macaca.
A impressão que eu tinha era a de que a Bulgária era bárbara. Para mim, búlgaros e tártaros eram primos. Eram também, desde o século VII,  cristãos, ortodoxos, mas cristãos. Mais tarde descobri que os tártaros ainda vivem por lá, mas são minoria.
Alguns dos búlgaros resistiram o quanto puderam às invasões dos mongóis e um dos seus líderes chegou a ser proclamado Patricius pelos Bizantinos, com os quais brigariam pelos séculos seguintes. Mais tarde eles foram massacrados pelos turcos. Outros búlgaros ocuparam a Bessarábia, que entra aqui só porque é um “pais” de contos de mil e uma noites, com sultões, haréns, et caterva, portanto muito adequado para um blog que trata de contos infantís e de terras do nunca. Quem quiser saber história de adultos procure o Google, que, mesmo não sendo acadêmico, é um lugar mais apropriado.
Mais tarde, quando eu já havia superado o latim do ginásio mas não o grego do colegial, que hoje não existem mais, nem o ensino das linguas nem a denominação dos gráus escolares, eu voltei a tomar conhecimento da Bulgária. Foi através do escritor Campos de Carvalho, hoje em dia na moda outra vez, e do seu livro “Púlcaro Búlgaro”. Alí, os búlgaros foram motivos apenas para os trocadilhos dos concretistas.
Hoje, em um “brunch” com amigos meus “de esquerda”, eu os tenho é verdade, ouvi falar pela terceira vez da Bulgária. “O Brasil está na moda na Bulgária”, sabiam, disse um deles, ao que eu respondi que ele tinha acabado de me dar um título para mais uma das minhas crônicas no “Peter Pan de Garanhuns”. Eles nem podem saber dessas minhas crônicas, senão eu, que hoje sou, segundo eles, “de direita”, serei classificado como de “extrema direita”. Aliás, descobri, além de redescobrir a Bulgária, que hoje já não há mais a direita no Brasil, restamos apenas 44 milhões de extrema direita.
Devo ressaltar que os quatro que estiveram à mesa comigo são meus amigos, muito amigos. Um pintor, uma jornalista e dois advogados. Todos eméritos em suas respectivas profissões e vivendo com rendimentos familiares, estimo, acima dos 20 salários mínimos. Eu, que costumava jantar somente uma vez por mês na Roberta Sudbrack, porque não tenho renda suficiente para fazê-lo todas as noites como eu gostaria, eu, era ali um legítimo representante da classe operária, um pobre entre ricos, se é para ficarmos nestas distinções maniqueístas a que fomos obrigados no Brasil desde o tempo da ditadura.
Além da Bulgária, descobri o quanto o Brasil está dividido entre a "esquerda" e a "extrema direita", palavra e expressão que não querem dizer absolutamente nada. Descobri que alguns personagens da vida brasileira, jornalistas, pintores, sociólogos, cientístas políticos, arquitetos, taxistas, porteiros, garçons, prostitutas, ou são de direita ou são de extrema esquerda. Eu, constrangido, porque todos sabiam que eu votara na “extrema direita” nas últimas eleições, reconheci humildemente a derrota na esperança de aplacar sanha primária que nos divide, a nós brasileiros. Mesmo o bom humor caracterísco destes meus amigos tornou-se um humor menor, como constatou um deles.
O humor sempre foi a minha esperança. Porque acredito que o humor é a mais acirrada das críticas, especialmente quando se volta contra nós mesmos. Uma crítica ácida, mas saudável, das nossas convicções maniqueístas. O humor nos impede de acreditarmos fanaticamente nas nossas crenças, porque toda a crença e todo o fanatismo é, em última e trágica instância, uma piada. Por isso, quando ouvi falar que o Brasil está na moda na Bulgária, ví nisto uma oportunidade para a ironia, porque isto só poderá ser mais risível quando estivermos na moda em Botswana. E me lembrei de Campos de Carvalho que, depois de seu angustiado púcaro búlgaro, voltou a ser lançado, desta vez como teatro, na mesma catapulta em que fomos metidos.

Saturday, November 6, 2010

O ESCARAVELHO VERMELHO

Li, no twitter na LitaRee_real, que o escaravelho "é 1 inseto q os egípcios cultuavam pq depois q morria a carcaça permanecia intacta" (sic). Depois, não resisti, e fui a Wikipidia, não porque eu seja completamente ignorante, sou quase, mas porque queria maiores informações, e lá estava: Escaravelhos (do latim vulgar scarafaius, variante de scarabaeus, pelo português antigo escaraveo) é a designação comum a insetos coleópteros e coprófagos (especialmente os que vivem de excrementos de mamíferos herbívoros).
É claro que a twiteira está certa e a Wikipedia, embora não seja uma fonte acadêmica, confirma isto: "nEgito Antigo, o escaravelhos eram seres sagrados, sendo usados como amuletos relacionados com a vida após a morte e a ressurreição. Eram muito usados nas mumificações para proteger o morto no caminho para o Além. 
Eu disse hoje a um amigo meu que tinha perdoado Lula e Dilma. A "gente perdoa mas não esquece", como diz um outro amigo, disquerda, quando se refere aos males da ditadura brasileira. Talvez por isso me lembrei de um dos disfarces que o Batman usava. Já que este blog trata de heróis infantís, devemos continuar com isso.
Batman, para se infiltrar no Sindicato da Injustiça de uma terra paralela, toma o lugar do Homem-Coruja, a quem ele havia derrotado e prendido na Batcaverna. Infiltrado como tal Batman ganha a aliança de versões heróicas dos próprios vilões que enfrentou, entre os quais o Escaravelho Vermelho. Ou seja, heróis e vilões são a mesma coisa, os os dois lados da mesma moeda.
Ora, como os meus amigos comunistas já me haviam advertido na juventude, Batman é uma das respresentações do imperialismo ianque, assim como Capitão América (muito óbvio), Superman, Shazan e todos os outros. Os soviéticos, naquela época, não produziam "comics". Portanto, o Escaravelho Vermelho seria, como sói acontencer (gosto de usar esta expressão erudita só para sacanear os ignorantes), um vilão, representante dos comunistas soviéticos.
Os contos infantís, e neste caso os "comics", são mitos do mundo moderno. Imaginário das crianças e dos "homens incompletos", como é o caso de Peter Pan. Por tudo isto, foi para mim impossível resistir ao desejo de encontrar na política brasileira esta figura do Escaravelho Vermelho, o outro lado do herói, cropófago que se imagina eterno simplesmente porque se alimenta de suas próprias idéias.
O Escaravelho Vermelho imagina-se um faraó, da mesma forma que estes imaginavam-se aqueles. Supõe e supunham que, mumificados, estariam prontos para a ressureição. Os escravos do antigo egito aplaudiam estas mistificações tanto quanto, no Brasil de hoje, os que creem em histórias infantís, aplaudem  e esperam pela volta do Escaravelho Vermelho.

Wednesday, November 3, 2010

SININHO, PETER PAN, E A GUERRA DOS MUNDOS

Não é por nada não, mas vocês viram a entrevista de Sininho e Peter Pan sobre política nacional e economia internacional? Eu só vi agora na madrugada. Seriamente, estou preocupadíssimo. Não se brinca com coisas como estas. A situação é gravíssima e eu não poderia supor que já na primeira entrevista ouvisse tantas tautologias. Falar de "guerra mundial" e "guerra cambial" é muita guerra para o meu gosto.


Quem fixa o câmbio são governos soberanos, reclamar da China ou dos Estados Unidos é chover no molhado. O importante é o que fazer quando governos soberanos usam uma política cambial que não nos favorece. Se o Brasil supervaloriza a sua moeda com juros extratosféricos e por um tempo além do possível, isto é um problema monetário nosso. Isto atrai muito capital, mas acaba com nossas exportações, indústrias e empregos.


E a Sininho dando cola para Peter Pan? Parecia colégio primário. E Sininho explicando o que acontece. "O que acontece é o que aconteceu...a guerra mundial". Francamente! E o ato falho da Sininho trocando política por polícia? A situação pode ser tornar dramática. E "o salário mínimo que pode chegar a 700 reais...mas só se o PIB crescer". Claro, pode chegar a sete mil reais...é só o PIB crescer.

Tuesday, November 2, 2010

O VÍCIO DO ESCORPIÃO

Este é o ciclo vicioso: para mudar o neo-populismo é preciso mudar a educação e para mudar a educação é preciso mudar o neo-populismo. O mesmo se dá para a pobreza e para a bolsa-familia.
O populismo não é privilégio de Lula e do PT (o neo-populismo, sim). Todos os políticos populistas dizem que vão acabar com a pobreza, com o anafalbetismo, e a fome. De preferência em um mandato, na forma chinesa. A China continua pobre e analfabeta e nem o capitalismo a salvará. O populista é como o escorpião, ele pode ter boas intenções mas é de sua natureza se eleger pelos que dependem dele.
A China, como qualquer país, tinha duas maneiras de sair da pobreza: investir o excedente, quer dizer, deixar de consumir (ou de comer, no caso); ou importar capital, trabalho acumulado para usar aquela metodologia antiga de Marx e Lênin. Como deixar de comer era impossível, e porque a fome aumenta a população como dizia Jozué de Castro (é da natureza tentar preservar a espécie), a China "descobriu" o capitalismo.
Aliás, Lênin, com a NEP, já sabia que a melhor forma de poupar e investir ainda é o capitalismo. Cuba levou mais tempo, mas já descobriu, agora, que a miséria devasta o país (importam quase 85% do que comem). Os capitalistas vão para a China, produzem mais barato porque o salário é miserável e não se pode fazer greve, e exportam. Mas para manter a exportação é preciso que os salários continuem baixo...e o meio ambiente destruído.
No Brasil, o capital veio por causa da maior taxa de juros real do mundo (eles não são bonszinhos). Isto aqui virou uma festa, os banqueiros aumentaram o lucro, a classe média viajou para Miami e o governo, arrecadando e gastando, dá comida para os pobres. Nossos exportadores param de exportar, nossas indústrias são compradas, e a qualquer momento o capital internacional se manda e o país quebra (Mexico e Argentina conhecem este filme).
E o Mantega reclama da "guerra cambial" e do neo-liberalismo. O capitalismo é assim, meu nego (com perdão do impolitacamente correto). A Dilma acha que vai acabar com a pobreza. A euforia é engana. Na primeira fuga de capitais, parece que estou vendo, os “disquerda” vão dizer que a culpa é do imperialismo, que o mercado interno nos salvará, que a produção de alimentos virá da agricultura dos sem terra, e que é preciso criar a “política comunitária” para denunciar os traidores. Depois, quando passar a euforia, farão como Cuba e China, chamarão de volta o capital, o povo continuará analfabeto e com fome.
Liberar a entrada e saída do capital só funciona se o governante evita a euforia e o gasto público. Com isso, ele sempre terá reservas para enfrentar a fuga do capital. Mas como é que os populistas, que dependem do ato de dar esmolas, vão resistir ao gasto público, e logo agora que eles estão agarrados ao poder, com ajuda dos pobres, da classe média viajante e dos ricos que sustentaram a sua campanha?
Ah, ia me esquecendo, como a demanda é função da disponibilidade a pagar, seria preciso que o mercado interno consumisse três vezes mais o que ele tem capacidade para que as indústrias não fossem à falência. Getúlio Vargas, que era um outro escorpião, que o diga.

AS CONTRADIÇÕES DO NEO-POPULISMO

Para derrotarmos o populismo e sua versão atual, o neo-populismo, 
é preciso acabar com a pobreza e com o analfabetismo. Mas para
acabar com estes dois flagelos é preciso acabar com o populismo.
A bolsa família, ao contrário, o perpetua. Os mapas acima são uma
evidência deste dilema.

Monday, November 1, 2010

E O MAPA DA DISTRIBUIÇÃO DE BOLSA FAMÍLIA

VOTOS DO SEGUNDO TURNO E ANALFABETISMO NO BRASIL

ESTAMOS TRISTES, MAS NÃO DERROTADOS

Ficamos tristes.
O que nos impressiona não é o fato de pessoas diferentes elegerem políticos que divergem da nossa opinião. O que impressiona é o fato das pessoas elegerem um projeto de poder que exclui a divergência de opinião. E pior, que faz isto clandestinamente.
Em seu discurso de comemoração, Dilma falou sobre vários temas que agradaram aos menos atentos: liberdade de imprensa, direitos humanos, direitos religiosos. Um ponto não foi percebido pelos jornalistas: a criação de uma "polícia comunitária".
Uma das grandes conquistas da humanidade foi a constituição de forças policiais armadas profissionais, submetidas ao Estado e não aos governos. Isto é verdade para as forças armadas e para as forças policiais, incluindo, no caso brasileiro, a Polícia Militar.
Outros governos instituíram "polícias comunitárias". Entre estes, Cuba e a Alemanha de Hitler. Em ambos os casos a "polícia comunitária" foi e é uma polícia de controle da sociedade, uma espécia de milícia que foge ao controle da Lei.
Nos dias de hoje, a tirania, dita do proletariado, não exclui o capitalismo. Ao contrário, o inclui e controla. Vejam o caso exemplar da China. Há outros, como o Vietnam; e mesmo Cuba se prepara "para o futuro" criando espaços para que o empreendedorismo salve a economia. Lênin já sabia disto quanto inventou a Nova Economia Política. Stalin, envolvido pelas guerras e suas consequências, preferiu aperfeiçoar os sistemas de "controle político". Dessas lições, os anti-democratas concluíram que o capitalistmo não pode mudar o Estado totalitário. O que importa aos tiranos de hoje não é o controle dos meios de produção, mas o controle dos meios de repressão. Prestem atenção na "polícia comunitária".
Durante muito tempo, os liberais usavam a expressão de que "o preço da liberdade é a eterna vigilância". A esquerda, por isso, acusou esta expressão como sendo o símbolo da direita totalitária. Isto faz parte da ignorância de esquerda. A expressão foi originalmente cunhada por um protestante liberal que se notabilizou por defender católicos ameaçados de morte na Irlanda do final do século XVIII, origem do que mais tarde veio a ser o IRA, organização totalitária de esquerda. O liberal que os defendia de serem condenados por apenas um testemunho (ou delação) era John Philpot Curran, um ídolo dos liberais  na Irlanda. 
"A condição imposta por Deus ao nos dar a liberdade foi a eterna vigilância", dizia Curran. "Se o homem deixa de observar esta condição, a consequência deste crime é a servidão, punição para sua culpa", concluia. (Speech upon the Right of Election for  Lord Mayor of Dublin, 1790. Speeches. Dublin, 1808).
Estamos tristes, mas não estamos derrotados.