Monday, August 20, 2012

VEM COMIGO DANDO GLÓRIA

http://www.youtube.com/watch?v=9hOy93yzSr0

SAUDADES DO DR. ROBERTO


Todo o mundo sabe que eu sou o último dos liberais. No sentido antigo da palavra. Eu não sou um neo-liberal, por exemplo. O meu liberalismo é assim uma espécie de vale-tudo, menos os conservadores, que são nossos inimigos mortais. Eles estão para nós assim como o Escaravelho Vermelho estava para o antigo Batman. Hoje em dia virou bagunça e o inimigo do neo-Batman é o Coringa.
Tudo isto para dizer que O Globo, desta vez, exagerou. Na penúltima manchete eles acabaram com uma greve - a dos professores - que, apesar da profecia - vai bem, obrigado. Hoje, eles decretaram que "a greve", não sabemos exatamente qual, já custou 1,2 bilhão em sete anos. A princípio me perguntei: estamos em greve há sete anos? Depois, mais calmo, me dei conta da conta que eles fizeram, conta de mentiroso. Sete anos? porque sete anos? Poderiam ser dois, dez ou setenta. Mas para quem fez e autorizou esta manchete não faz mal. O importante é que "a greve", qualquer greve, já custou mais de um bilhão.
Perdoem-me os meus amigos de esquerda, mas eu já trabalhei em O Globo e ainda tenho bons amigos jornalistas, alguns ainda de esquerda, deste tempo. Na época em que lá trabalhava, na mesma sede onde fica parado o Dodge Dart do Agamenon, eu era o que se chamava de "Redator A" (ainda vou escrever um livro com este título. Redator A era mais importante que PhD em História, ou que Titular em universidade federal. Ao Redator A competia, entre outras coisas, escrever as manchetes. Se eu escrevesse uma manchete como esta, o Dr. Roberto Marinho, que ainda andava por entre as máquinas de escrever, teria me demitido.
Mas, eu sou um liberal vale-tudo e para mim vale a greve como vale ser contra a greve. Só não vale mentir, porque mentir é coisa de conservador. E a mentira não tem nuances. A mentira é a falta da virgindade. Não existe meia mentira assim como não existe a "demi-vierge". A melhor definição de demi-vierge que eu encontrei foi em um dicionário inglês: "a girl or woman who behaves in a sexually provocative and permissive way without yielding her virginity". Isto é o que se pode chamar de "demi-definition". Demi-vierge é muitíssimo mais do que isso, senão qualquer criança brasileira ou sueca, no carnaval carioca ou em um acampamento de escoteiro em Estocolmo, seria uma demi-vierge. Não, demi-vierge, a rigor, não existe. Porque ou se é virgem ou não, porque a virgindade é um estado de espírito, assim como a inocência.
Eu, quando vejo uma manchete como esta de O Globo de hoje, me sinto uma virgem, uma vestal, e vejo o quão longe vai a minha ingenuidade quando se trata de lidar com conservadores. Cheguei mesmo a pensar em me tornar "de esquerda" novamente. Depois desisti, primeiro porque a esquerda também já perdeu a vergonha e porque, como diria uma pessoa de quem eu gosto, esquerda e novo não combinam na mesma frase. Está bem, é "novamente", mais eu odeio advérbios, porque não são nem verbos nem adjetivos. Uma espécie de demi-vierge gramatical.
Mas paro estatelado quando leio o sub-título da matéria de O Globo: "professores das universidades federais estão chegando a mil dias de greve...em 32 anos". Os três pontinhos não existem, mas eu não resisti. Alguns, professores e não pontinhos, já morreram sem completar os mil dias de greve, esses são uma espécie de "demi-Pelé", o Romário que me perdoe.
Senhores jornalistas de todo o mundo: estes são títulos e sub-títulos que se prezem? Está bem, todos tem o direito de ser contra a greve, qualquer greve, mas um mínimo de caráter é necessário. Vou terminar, porque senão começo a falar bobagem. E por falar nisso, tenho saudades do Dr. Roberto.

Wednesday, August 15, 2012

O VOTO DOS TITULARES E A POLÍTICA NACIONAL


Serra e Mercadante precisam falar clara e explicitamente sobre a greve dos professores universitários e por extensão de todos os servidores ( foi o Mercadante quem conseguiu esta extensão ao postergar uma decisão rápida para os professores ). 
FHC e Geraldo Alkmin querem, ao apoiar a posição autoritária do governo, desgastar a Dilma e, por tabela, o próprio Serra, a quem eles nunca apoiaram (o negócio deles ainda é o Aécio). O Serra por sua vez ainda não foi claro sobre o assunto. Está dando uma de Mercadante. 
Ninguém quer perder os votos dos professores universitários e estudantes da cidade de São Paulo. Esta é a peça central para a política brasileira dos próximos anos. O PT já perdeu votos com a invenção do Haddad, mas o Serra ainda não está seguro da vitória. (e o FHC e o Alkmin exploram isto para ficar com a parte do leão).
O Serra, que representa outros interesses no PSDB, não quer se pronunciar sobre a greve dos professores, repito, e, por extensão, dos servidores públicos. Por incompetência do Mercadante, esta greve deixou de ser uma questão simples para se tornar o abacaxi do governo e do PT.
Não há greve sindical, toda a greve é política, quer queiram ou não. E quanto mais os servidores resistirem mais política ela será. O que está em jogo é a política dos próximos anos. Todo mundo quer os votos dos servidores, dos professores e dos alunos, e não apenas os votos dos titulares.

Monday, August 13, 2012

O MINISTRO DOS CATEDRÁTICOS



O Mercadante é o grande problema da greve em todas as universidades brasileiras. O problema educacional não é da Dilma nem da Ministra do Planejamento.
Esta triste figura que ocupa o Ministério tem que se pronunciar sobre o evento mais relevante da última década na área da educação, dizer a que veio. Ninguém pode ser ministro e ficar fingindo que não sabe de nada. O que ele conseguiu até agora foi ampliar a greve e dar condições para a volta dos "catedráticos".
O fortalecimento de "titulares" é a volta ao academicismo oligárquico mais reacionário da vida das universidades brasileiras. É recriar uma estrutura feudal nas universidades; estimular a vassalagem e submeter o pensamento livre.
As consequências deste projeto de governo são muito mais nefastas do que simplesmente desestimular a greve. A longo prazo domestica o conhecimento, enquadra as pesquisas, impede as críticas e, pior, cria entre os professores o desejo individual único de vir a ser titular, ser socialmente reconhecido.
Conhecimento não se faz com catedráticos e isso já ficou claramente demonstrado ao longo de cinco séculos de bacharelismo. Conhecimento se faz com trabalho conjunto e competição saudável entre universitários e universidades, livres das conduções governamentais.
O Mercadante tem algo a dizer sobre isto? Ou ele prefere ser o Ministro dos Catedráticos.