Saturday, October 18, 2014

DE CHIRICO E A METAFÍSICA DA POLÍTICA BRASILEIRA

Retorno a este país em meio a esta vergonhosa campanha eleitoral da socialdemocracia. Não preciso dizer em quem eu vou votar. Os meus amigos e os meus inimigos já sabem. E eu não pretendo convencer ninguém. O brasil continuará o mesmo dos últimos quinhentos anos: oligarca, patriarcal, semi-medieval, covil de ladrões, degredados, degradados, e desgraçados. Agora, devastado pelo que os marxistas supõem ser uma "luta de classes", coisa que nem o próprio Marx conseguiu definir.
Como sabem aqueles que a Marx leram, o não-sei-porquê famosíssimo "capítulo inacabado", que tem apenas cinco pequenos parágrafos, começa dizendo que há TRÊS grandes classes que fundam o modo de produção capitalista. Comecemos por aí: para Marx são três grandes classes. Para todos os marxistas que vieram depois são apenas duas. No caso brasileiro isso se reduziu ainda mais para uma divisão besta entre ricos e pobres.
Para aqueles que fantasiam definir classes pelas fontes de receita (salário, lucro, renda, etc.), o próprio Guru arrasa com o que talvez seja o melhor dos cinco pequenos parágrafos: 
"Pero desde este punto de vista médicos y funcionarios, por ejemplo, también formarían dos clases, pues pertenecen a dos grupos sociales diferentes, en los cuales los réditos de los miembros de cada uno de ambos fluyen de la misma fuente. Lo mismo valdría para la infinita fragmentación de los intereses y posiciones en que la división del trabajo social desdobla a los obreros como a los capitalistas y terratenientes; a los últimos, por ejemplo, en viticultores, agricultores, dueños de bosques, poseedores de minas y poseedores de pesquerías." (uso a fonte mais rápida, mas vocês podem ler onde quiserem, inclusive nas péssimas traduções brasileiras: http://pendientedemigracion.ucm.es/info/bas/es/marx-eng/capital3/MRXC3852.htm). Daí em diante, o Guru calou a boca.
Se Marx conhecesse a história dos médicos cubanos no Brasil ficaria ainda mais impressionado com a multiplicidade de supostas "classes".
Eu retorno da Argentina, que antes foi um país e que hoje é o rebotalho do bolivarianismo. Lá há, pelo menos bons vinhos e um nível cultural ainda alto e que, infelizmente, cada vez baixa mais. Cheguei aqui com medo que o avião da estatal Aerolíneas Argentinas se despedaçasse no tristemente famoso aeroporto do Galeão, hoje já semi-privatizado pelo Estado socialdemocrata.
Em meio aos sobressaltos do velho avião, vim lendo De Chirico, o pintor. Isto mesmo, Giorgio De Chirico, que poucos conhecem como o criador da escola metafísica e precursor do surrealismo. Um dos maiores pintores de todos os tempos foi também autor de uma extraordinária novela metafísica, pré-surrealista, absolutamente fantástica. De Chirico a escreveu em francês, ele que sendo grego falava e escrevia italiano, e alemão, além, é claro, do francês e do grego. O próprio De Chirico fez, depois, uma tradução "ipsis literis", desta "novela", para o italiano. O texto francês foi escrito em 1929, quando o pintor, escritor, e, porque não dizer, filósofo, já estava sendo destruído pelos críticos por causa de suas últimas pinturas. Ele se divertia, a ponto de fazer pinturas "à maneira" do De Chirico preferido pelos críticos (aqueles dos anos 10 do século vinte). "É isto que vocês querem? Aí vai", dizia.
Só em uma Argentina ainda culta poderia encontrar esta tradução para o espanhol do Hebdómeros, nome do livro e do herói. A capa, linda, é um auto-retrato do autor já feito na fase mal dita.