Sunday, June 23, 2013

NO MEIO DA MENSAGEM


Na minha época (antes dizia-se “era uma vez”, agora diz-se na minha época). Na minha época estava na moda o Marshall Mcluhan. A esquerda não gostava dele, talvez porque confundisse Marshall (com dos “eles”) com marshal. Eu era de esquerda e li uma ou duas obras dele. Para me livrar da culpa tive que ler um sujeito do qual não me lembro mais o nome, Serge qualquer coisa, um sobrenome russo, que escrevera um catatau sobre controle de massas. O livro tinha mais de mil páginas e tentava explicar porque as “massas” não seguiam o canto da sereia do marxismo e preferiam outras religiões.
Mas não importa, eu li uns dois ou três livros do Mcluhan, como ele ficou conhecido. O mais badalado era “O Meio é a Mensagem”. Havia outros: “Aldeia Global”, “Os meios de comunicação como extensões do homem”, “A Galáxia de Gutenberg”. Não sei porque, o Mcluhan sumiu, nenhum comentarista da Globo falou sobre ele, não que eu tenha ouvido, e olha que eu sou um assíduo consumidor do sistema Globo.
Depois veio a moda da globalização, que ainda está nos azarando até hoje, mas quem primeiramente falou sobre isto foi o Mcluhan. Ele morreu antes da internet, e entre os meios (“mídia”) que ele estudou os mais importantes foram o rádio e a TV, extensões do ouvido e do olho. Depois falou sobre outras extensões, como pernas, braços, etc. Mas parou por aí. Até porque os freudianos já estavam de olho nele, e, creio, para ele, já bastavam os marxistas.
Escrevo tudo isto porque parece que o MPL (movimento passe livre) misturou tudo. Confundiu uma mensagem semiconservadora - ainda não entendi a lei do hífen, que quase não existe mais, assim como o Mcluhan e a mensagem Zapatista do MPL. Zapata também já quase não existe mais e o Sub-Comandante Marcos, quantos sejam, é mais velho do que “amarrar cachorro com linguiça” (gostaram dessa?). Voltando...o MPL confundiu liderança mascarada com não ter liderança.
Como precisava crescer, a meia dúzia de militantes do MPL resolveu expandir sua mensagem através da internet. A mensagem de esquerda exige hierarquia e centralismo desde que Lênin é Lênin. A internet é uma rede, nenhum nó se sobrepõe ao outro, coisa que, aliás, a Rede Sustentável da Marina precisa aprender. É, mais ou menos como se pretendessem cobrir um circo elevando uma rede com um mastro central, na esperança de que existindo um ponto mais alto fosse possível evitar a chuva.

Não é apenas porque a internet dificulte a relação hierárquica, ela impede! Ninguém manda em ninguém, as pessoas sequer se conhecem, e todo mundo fala o que quer, quando quer, e como quer. Resultado: ao usar a internet para difundir sua mensagem, o MPL acabou por difundir a dos outros e acabou literalmente no meio do circo, tomando chuva.

Friday, June 21, 2013

O BRASIL DA INZONA

(republico com as contribuições do Andres)
A Aquarela do Brasil, do Ari Barroso, é a melhor representação do país, como diria um velho amigo. Começa assim: Tcharan! Pena que eu não sou músico para dizer quais são as notas, mas vocês podem acompanhar pela letra: Tcharan (Brasil); tanranran, taranran (meu Brasil, brasileiro), tanranran, taranran (meu mulato inzoneiro); taranrantanrantanran (vou cantar-te nos meus versos. A última estrofe deve ser cantada sílaba por sílaba: tan ran ran tan ran tan ran.
Se vocês, agora, esquecerem a letra, vão pensar que estão entrando em uma sinfonia, tal a grandiosidade da música. Aí, então...começa o sambinha: taranran tanrantantan...etc. Cantem só para ver. Como diria o meu amigo: estou só esperando a hora de entrar o sambinha. Até agora estamos nas estrofes iniciais.
No Brasil, só manifestantes, protestantes e gays conseguem colocar tanta gente na rua. Comecemos pelos manifestantes. Antigamente, quando eu era criança, manifestar-se era coisa da umbanda: incarnar um espírito, algo assim como o Pentecostes. para os católicos isto foi reduzido ao Crisma. Mas, enfim, receber o espírito, e começar a falar línguas estranhas, algo que nunca se vira antes. Weber dizia que era o Carisma, que é o Crisma dos católicos. O Pentecostes também nos remete para os pentecostais, um ramo dos protestantes, os mesmos do Marco Feliciano, que acha que os gays precisam ser curados, o que nos remete de volta aos curandeiros, de alguma maneira próximos da umbanda. E aos gays, que também botam milhões nas ruas, mas não são vistos pela maioria dos congressistas, que, em matéria de “direitos humanos” preferem apostar nos votos dos protestantes.
Pensei em titular esta postagem como Esquerda, Direita, Vou Ver. Porque é aqui que a direita e a esquerda não sabem o que fazer...vão ver. Talvez depois de assistirem às análises dos convidados da Rede Globo, convidados que, hoje, substituíram as novelas. Mas fiquei na dúvida sobre o título: talvez Aquarela do Brasil, ou mesmo Manifestantes e Protestantes.
Antigamente, no Brasil, era tudo um pouco mais claro: passeata com Deus e a Família de um lado e Comício da Central do outro. Depois isto foi ficando mais confuso: na passeata Dos 100 Mil já não havia o contraponto. Os da marcha com Deus e a Família já estavam se arrependendo ao verem os seus filhos sendo presos pela Ditadura que eles levaram a se estabelecer. E os donos do poder começaram a ficar confusos: afinal, o que quer a classe média? Talvez uma abertura, que acabou nos conduzido às Diretas Já, ao Caçador de Marajás e aos cara-pálidas, quero dizer, os cara-pintadas. Mas o ato falho é aceitável porque pele-vermelhas eles não eram. Os pele-vermelhas estão por aí, até hoje, tentando entender o que está acontecendo hoje.
Para o meu próprio desencanto, fico com o meu amigo, vai tudo acabar em samba, ou em índios cantando em volta de fogueiras, como vi nas manifestações inzoneiras de ontem.
PS: inzoneiro: aquele que faz inzona, segundo o Caldas Aulete.

Thursday, June 20, 2013

O SAMBINHA PROTESTANTE


A Aquarela do Brasil, do Ari Barroso, é a melhor representação do país, como diria um velho amigo. Começa assim: Tcharan! Pena que eu não sou músico para dizer quais são as notas, mas vocês podem acompanhar pela letra: Tcharan (Brasil); tanranran, taranran (meu Brasil, brasileiro), tanranran, taranran (meu mulato isoneiro); taranrantanrantanran (vou cantarte nos meus versos. A última estrofe deve ser cantada sílaba por sílaba: tan ran ran tan ran tan ran.
Se vocês, agora, esquecerem a letra, vão pensar que estão entrando em uma sinfonia, tal a grandiosidade da música. Aí, então...começa o sambinha: taranran tanrantantan...etc. Cantem só para ver. Como diria o meu amigo: estou só esperando a hora de entrar o sambinha. Até agora estamos nas estrofes iniciais.
No Brasil, só manifestantes, protestantes e gays conseguem colocar tanta gente na rua. Comecemos pelos manifestantes. Antigamente, quando eu era criança, manifestar-se era coisa da umbanda: incarnar um espírito, algo assim como o Pentecostes. para os católicos isto foi reduzido ao Crisma. Mas, enfim, receber o espírito, e começar a falar línguas estranhas, algo que nunca se vira antes. Weber dizia que era o Carisma, que é o Crisma dos católicos. O Pentecostes também nos remete para os pentecostais, um ramo dos protestantes, os mesmos do Marco Feliciano, que acha que os gays precisam ser curados, o que nos remete de volta aos curandeiros, de alguma maneira próximos da umbanda. E aos gays, que também botam milhões nas ruas, mas não são vistos pela maioria dos congressistas, que, em matéria de “direitos humanos” preferem apostar nos votos dos protestantes.
Pensei em titular esta postagem como Esquerda, Direita, Vou Ver. Porque é aqui que a direita e a esquerda não sabem o que fazer...vão ver. Talvez depois de assistirem às análises dos convidados da Rede Globo, convidados que, hoje, substituíram as novelas. Mas fiquei na dúvida sobre o título: talvez Aquarela do Brasil, ou mesmo Manifestantes e Protestantes.
Antigamente, no Brasil, era tudo um pouco mais claro: passeata com Deus e a Família de um lado e Comício da Central do outro. Depois isto foi ficando mais confuso: na passeata Dos 100 Mil já não havia o contraponto. Os da marcha com Deus e a Família já estavam se arrependendo ao verem os seus filhos sendo presos pela Ditadura que eles levaram a se estabelecer. E os donos do poder começaram a ficar confusos: afinal, o que quer a classe média? Talvez uma abertura, que acabou nos conduzido às Diretas Já, ao Caçador de Marajás e aos cara-pálidas, quero dizer, os cara-pintadas. Mas o ato falho é aceitável porque pele-vermelhas eles não eram. Os pele-vermelhas estão por aí, até hoje, tentando entender o que está acontecendo hoje.

Para o meu próprio desencanto, fico com o meu amigo, vai tudo acabar em samba, ou em índios cantando em volta de fogueiras, como vi nas manifestações de hoje.

Sunday, June 16, 2013

MICKEY MOUSE E A TURMA DO VINAGRE

Peguei na veia...a turma de esquerda saiu em defesa (não sei de quê)! 
Esquerda e direita para mim não são categorias científicas desde a época de Leibniz (pai desta turma do Derrida, etc), são termos relacionais. Para mim, Stalin e Zé Dirceu são de direita. 
Estas manisfestações que ocorrem hoje no Brasil não obedecem a estas pseudo-categorias. E não adianta os pequenos partidos, do tipo PSOL, PSTU, PCB (o renascido) tentarem se apropriar do movimento. 
Há de tudo: os que criticam Alkmim, Lula, Dilma, Paes, a Igreja, a Ecologia, o Marxismo, etc...A única identidade é a indignação com qualquer tipo de apropriação. Há os que dizem que estes movimentos são de provocadores (antigamente eram tidos como direitistas). Há os que não sabem muito bem (tipo Jabor e Mainard), há os que ficam na dúvida se é a internet ou os espaços públicos (tipo Castells). 
Enfim, todo mundo inventando, mas quando tentam dar sentido (o que eles querem? quais são as reivindicações?) a realidade escapa entre os dedos. 
No final eles (os manifestantes) vão ficar empregados como Mickey Mouse ou Minie na Puerta del Sol, como acontece na Espanha; ou jogando na bolsa, como o Ocupy Wall Street; ou apoiando governos militares (são de direita?), como no Magreb (quem não sabe o que é, procure no Google). Não há direção entre eles (os que se manifestam, não os que se acham liderança, argh!). 
O fato é que, por outro lado, qualquer um que tente governá-los acaba com a corda no pescoço. Repito: estas são manifestações públicas de indignação. A direita (o que é a direita?) anda de ônibus, como andam todos os PMs que dão bordoadas ou os soldados que vão para os quartéis...e por falar nisto, os comandantes militares, que também não sabem direito o que é isto, estão só esperando...
PS: O Leibniz também é pai do Deleuze e do Guattari. Quem quiser ter uma noção de como funciona este movimento vai ter que entender de pensamento rizomático e nomádico (sorry, vão no no Google)