- Boite noite, Sir.
- Are we going to talk in English, or...?
- Como?
- Vamos falar inglês ou português?
- Como?
- O senhor começou com "boa noite, Sir", eu pensei que íamos falar em inglês.
- Não, senhor, eu falei "boa noite, ser".
- Ser ou Sir? Não entendi.
- Ser, eu falei "boa noite, ser"
- Como assim, ser? Ser humano?
- É, pode ser, qualquer ser...
Este taxista não está regulando bem. Tenho que ir devagar. Louco a gente não contraria.
- Ser, como? Assim, tipo assim "ser ou não ser?"
- O senhor está gozando com a minha cara?
- Não, Sir...quero dizer, não, senhor. O senhor foi quem começou.
- Eu já disse: não comecei nada. Só dei boa noite, ser!
- Ok. Tá bom...ser! Pode ser assim...qualquer ser...animal, vegetal?
- Acho que o senhor ainda está me sacaneando, mas vai lá: pode ser qualquer ser. Eu sou espiritualista. Acho que qualquer ser que entra no meu taxi merece respeito.
-Eu também... (silêncio)
- Para onde vamos?
- Ali para o Corte, o Corte Cantagalo, quero dizer...antes que o senhor ache que é deboche.
- Está bem.
Eu fiquei olhando fixo para o espelho do motorista. Assim via a cara, mais a testa, do taxista, e podia imaginar se ele estava babando ou coisa semelhante. Nunca tinha visto um início de conversa tão maluco. Mas fiquei firme.
Eu tinha chegado de Ithaca, upstate New York, e acho que foi por isso que achei que o cara me confundiu com um turista estrangeiro. Enfim, o turismo tem aumentado no Rio.
Ithaca parece coisa de Ulisses. Fiquei matutando enquanto olhava fixo para. Mas o cara parecia sério. Como as religiões evangélicas e outras, inclusive as indianas, estão proliferando na periferia do Rio, achei que o cara podia ter entrado numa dessas viagens místicas, uma espécie de São Francisco do Terceiro Mundo. Afinal, outro dia, vi um padre franciscano beijando a mão de um cachorro, quero dizer, a pata, Tá valendo tudo.
Olha aqui, depois daquela latinha de lixo tem um arbusto, logo em seguida um recuo, número 183, tem uma placa bem grande, ali onde está passando aquele cara, o senhor pode entrar...agora. O taxi parou, paguei os dez reais, e fui me embora.
Tem cada maluco!
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